sexta-feira, 27 de maio de 2011

Seríअमोस nóस?


Paramos num espaço pequeno, tinha uma luminária pequena no canto esquerdo da cama, ele olhou para meu rosto, esperando uma resposta, eu não sabia o que dizer. Aquela penumbra me lembrava um rosto que gostaria de esquecer, um rosto que sorria para mim, um sorriso amargo, sem gosto. Eu tive medo, sentei ao seu lado e meu corpo tremia por inteiro, ele falava um misto de repetições e idéias geniais, ele não sabia que eu estava ali. O medo tomava conta do seu labirinto de uma só via, ele não entendia. Ele não queria entender. Peguei seus dedos com toda a delicadeza que ele merecia, ele merecia o melhor de mim, meu melhor esmalte, meu melhor silencio, minhas melhores palavras. E eu estava estática, inerte a sentimentos mais intensos, estava medindo cada espaço que nos rodeava, não era para ser assim, mas como seria afinal? Quem poderia acreditar na sua verdade, nas suas promessas, na sua lealdade. Eu era um resto de cigarro e um hálito de whisky ordinário, eu era a roupa suja no varal, naquele momento eu só queria experimentar aquela pureza, aquele jeito torto de dizer: eu te amo. Seria egoísmo só desejar ser amada, seria mau gosto não poder prometer nada, porque afinal nós paramos aqui, a placa de um motel barato naquela estrada escura, parecia a melhor opção. Mas que opção existia num corpo vazio, cercado de malicia e ódio. Mas porque esse ódio não desapareceu?

Quem era aquele homem afinal? Porque sua arma não disparou a bala, enquanto ele chorava, porque suas roupas ainda estavam no armário. A mente dormia sozinha, esquecia pouco a pouco daqueles momentos, deixava para trás toda a minha vontade de parar aquele grito de pânico, aquele desespero de matar o que já estava morto, o que não estaria mais lá na volta. Quem te fez acreditar que o amor é eterno, meu caro. As mentiras já não convencem e você se parece com seu pai, já posso vê-lo sentado naquela poltrona suja a beira do gole fatal. Suas manias ainda me confundem, seria você ou serei eu. Quem de nós esta aqui nessa cama de lençóis brancos? Com um sorriso morno, ele então toca minha mão com mais força, ele interrompe minha saliva, com um suspiro. Talvez, diz ele.

Talvez, porque?

Porque a noite não terminou, nós não dissolvemos em um sonho

Nós temos a nós, e a cama ainda esta estendida.

Vá então, ela grita num misto de medo e desejo.

O cigarro queima no cinzeiro, o quarto já estava em estado de má conservação, o rodapé do canto esquerdo da porta do banheiro tinha uma marca, parecia ser um pouco de desgaste ou quem sabe uma batida. Será que alguém rompeu o silêncio, e chutou aquela porta?

Três anos naquela cadeia fétida, aquele cheiro de esgoto e pasta de dente, sim, tinha um preso lá que escova os dentes seis vezes ao dia. O homem acendia mais um cigarro e pensava, em qual quarto de motel ela estaria esta noite, será que já gozou, será que ainda coça a nuca antes de chegar no êxtase. As paredes cheias de mofo e rabiscos denunciavam sua realidade de limitações.

Acorda garota, já acabou nosso tempo.

Como? Eu dormi? Fizemos algo?

Sim, nós rolamos pela cama, fizemos juras amor eterno e adormecemos. Mas não tem problema, nós temos tempo. Tempo? Que tempo? Quem é você afinal, como pode entender do passar das horas, quantas vezes você já esperou por alguém? Quantas paixões eu já vi acabar em algumas horas. Alguém sabe exatamente o minuto em que a paixão foge pela janela? Eu tentei te dizer meu caro, a vida não é tão longa quanto parece. Esse controle é ilusão, somos reféns de nós mesmos... Entregue-se, me escute, não fuja, tenha medo, agonize, dance, pire!! Mas chega de me dizer que o caminho é tranqüilo, a quem você quer convencer? eu vejo seus pés trocados pisando nas linhas das calçadas, e o seu copo, ele continua intacto. Quem é você, afinal? E aquela voz parece que vinha de um lugar jamais evocado: eu sou aquele que segurei a bala, tirei seu vestido, prendi o homem e roubei suas lembranças.

Ah, então era você. Como pude esquecer esse rosto, quando o vi , logo me lembrei do rosto do meu avô. Quem? Não pelas marcas ou pelo cheiro de tabaco, mas pela expressão de sabedoria, você me enganou direitinho.

Que bom! Agora se vista, é tempo de voltar a rotina, leve uma maça para ele, leve flores, mas não diga a palavra perdão, essa palavra não deve ser proferida. Ela balançou a cabeça num sinal de compreensão e com um olhar de duvida, vestiu a sandália velha e deixou seus últimos trocados do lado da luminária pequena. E foi assim que se despediu de tudo que havia perguntado, de todo o controle perdido, de toda a falha e falta de memória... Ela só queria comprar uma maça, deitar num lençol limpo e esperar que o hálito ficasse menos espesso. A dor, a mágoa e a angustia costumavam deixar seu hálito assim. Um dia ela volta lá, disso nós sabemos, agora ela já sabe quem é..já é um começo.

A três passos do Paraíso

terça-feira, 21 de julho de 2009

चेगोऊ ओ २०१० इ कॉम एले मुस trinta


É difícil entender como se chega aos 30 e tão rápido, parece que vem um vento forte, uma nuvem carregada passando por cima de nossas cabeças e pronto, já esta lá aquela idade que você sempre apontou como a idade adulta. Como uma tempestade sem relâmpagos nos vemos mais velhos, mais cansados, mais reflexivos, menos sonhadores, e talvez, porque não mais maduros. Nossa, sempre que falo em estar mais madura, já vem àquela imagem de uma ameixa podre que caiu no gramado e que não serve para mais nada. Talvez a semiótica explique o porquê de acharmos sempre uma simbologia para tudo, mas eu me convenço a cada dia que ter completado três décadas nada mais é do que ter muita sorte.
Afinal no século XIX as pessoas morriam com essa idade e talvez já fossem considerados velhos sábios ao final de sua trajetória. Claro que os tempos mudaram, que a longevidade nem de longe é a mesma e que nós, que vimos à máquina de escrever transformar-se em um computador cheio de mil funções, estamos sim com a sensação de que muita estrada já passou por debaixo de nossos pés. E não é para menos, em menos de duas décadas nossas realidades foram transformadas e agora temos que fingir que conversar com um amigo num site de relacionamento é normal. Ou pior, que ficar sem abrir seu e-mail por um dia pode significar uma catástrofe.
O que não assusta só quem chegou aos 30 como se tivesse transcorrido um século, mas essa sensação nostálgica pode ser percebida nos olhos daqueles que não conheceram essa liberdade, que desfrutamos por mais de uma década. Éramos mais humanos, sim nós não éramos feito de teclado e tela e nem por um momento um budypocke iria indicar o nosso humor. Eram as nossas tardes intermináveis na casa dos amigos que influenciavam o nosso humor, eram os bolinhos de chuva da casa da vó que preenchiam nossa alma e estomago. E as visitas inesperadas que nos deixavam felizes e não o número de amigos no MSN. Era de verdade que uma boa história contada por nossos avós, amigos e irmãos nos faziam imaginar, flutuar e apreciar cada emoção vivida por eles. Agora podemos escolher o blog que conte a melhor história, mas é estranho, muito estranho, rir ou chorar em frente ao computador. Eu particularmente me sinto uma idiota.
O pior que eu já fui contaminada por essa geração que não tem mais banda de garagem e sim lança um cd novo no Facebox, dessa gente estranha que pinta o cabelo de diversas cores , corta, fura o nariz, a boca, a língua e acha que todos nós somos anormais por não percebemos que isso tudo é estilo.
É a contracultura, mas que ideologia é a deles, eu me pergunto. E ser diferente é sinônimo de bagagem cultural, de verdade não me lembro de um amigo que se sobressaísse pela inteligência ou pelo vasto conhecimento e que precisasse gritar isso aos quatro cantos, ou seriam cinco cantos. Sei lá, hoje se tem um universo paralelo e se fica até doente por isso, tem gente que morre por isso, NOTÍCIA DO DIA: Japonês de 16 anos morre depois de ficar cinco dias sentado em frente ao PC, Meu deus!! O que ele ficou fazendo lá todo esse tempo, quem era a namorada, ou a melhor amiga desse cara. Ou melhor, que era a mãe que não deu uma boa surra nele???? É possível que não tenha mais como falar sobre uma geração sem limites e sim observar uma geração que não os conhece.
Olha, quando eu me lembro de minha adolescência, esta bem claro, que muitos momentos tristes cruzam pela minha cabeça e não são poucos, pode acreditar! Eu não sou hipócrita em dizer que minha adolescência foi quase um modelo de escola americana e que nunca me frustrei, mas eu tive muitas experiências boas. E pode acreditar que as inúmeras horas conversando com minhas amigas, ficando com meninos, experimentando sensações novas, dando risada das nossas criancices, escrevendo nossos diários, rezando para que o garoto bonitinho percebesse a minha boca com batom da minha mãe, ir para a casa da tia chata para estudar porque não conseguiria passar de ano sozinha, tudo isso, era um saco,as vezes. Mas certamente eu iria odiar lembrar-se do meu passado se quando pensasse em mim, visse aquela menina–mulher, cheia de energia, com vergonha do corpo em formação, e curiosa pela vida, sentada em frente ao computador por horas e horas.
Com certeza que tem a minha idade ou esta perto dela deve sabe muito bem do que eu falo e nesse momento deve estar lembrando-se de como foi feliz como uma pessoa de verdade. To certo que não podemos menosprezar essa máquina de fazer dinheiro que se chama computador, internet e seus avanços. Seriamos burros se cruzássemos os braços diante de tantas facilidades, mas como certeza hoje nós sabemos que fizemos parte de uma geração que também ficou conhecida por beber coca-cola e cantar junto com o legião urbana, lobão, balão mágico, tantos outros.. É saber que nossos filhos nunca tentarão ter em suas vidas uma verdadeira turma da Mônica. Até porque eles já nasceram blindados pelas telas e um conteúdo áudio visual tão atraente que muitas vezes a bola é esquecida no canto do quarto e a televisão vira a companhia ideal e o videogame seus desafios. Enfim um pouco de saudosismo não faz mal pra ninguém, mas de verdade daqui a trinta anos pode ser que eu tenha mudado de idéia, mas por enquanto, o cheiro de chuva, conversa na calçada e reler um livro antigo me fazem tão bem ... E ter trinta anos me dá muito mais coragem de ter o que encontrar em minhas lembranças quando me deparo com a solidão.

domingo, 12 de julho de 2009

Nosso descompasso


A loucura me toma, me entontece, me seduz
Não preciso mais dos seus olhos, desse olhar indeciso
Você espera demais de mim, eu nem sei quem você é
Você fala em regras, normas, moral
Eu nem sequer sei o que vou fazer amanhã
Você me diz que estou acabada, que não tenho futuro, que meus passos são em falso.
Eu te acho superficial, rotineiro, sem sal
Você me julga, me maltrata, me joga na sarjeta
Eu danço nua na sua rua, e me banho no teu esquecimento
Você me quer bonita, bem vestida, endinheirada, jovem
Eu nem sei se quero ficar aqui com você
Você ama com muita medida, você mente, dissimula, passa pelo espaço e não o compreende.
Diz que me ama, tenta me moldar ao teu sonho, me fala dos seus planos, dos seus medos.
Eu brinco com o perigo, amo com meu estômago, durmo na sua escada, nem sei mais quem eu sou.
E você fala tanto de você, nem consegue respirar de tantas aflições
Abro a porta da minha imaginação e te digo
Eu sou seu avesso, ando descalça pelo seu mosaico sujo, quebro as taças de cristal que estão no armário.
Nem vou voltar nesse assunto, já passei , quero agora falar de flores, e você insiste em me entender.
Vou-me embora, dançando a capoeira, escapando de seus olhos, assim, sem contar os dias
Se ainda restar o sol quente de Domingo, estico minha rede, bebo sua cultura e me afogo nas poesias que esqueci de escrever.

sábado, 16 de maio de 2009

Vi um filme que me chocou muito, quer dizer, o nome desse filme já antecipava o sofrimento que eu iria assistir. Mas fui em frente, sentei no sofá, dei a mão a meu amigo e embarquei naquela viagem cinematográfica. Em alguns momentos pensei em desistir de assisti-lo, outras pensei tenho que ver, minha alma esta pedindo essa experiência. E fomos até o final. O nome do filme , um crime americano,a sensação posterior a ele, o ser humano se descontrola, mas unidos podemos chegar facilmente a crueldade. Fiquei pesada, minhas asas que andam recolhidas pelos meus momentos, doeram como se a mim tivessem ultrajado. Sou uma mulher de muitas palavras, de passos longos e quem me conhece melhor sabe que tenho uma veia dramática que enlouquece qualquer ouvinte. Meu lado humano foi tocado fortemente, cheguei a sentir ódio de ser mais um ser humano, mas sei que não estou condenada a cometer insanidades, pelo menos não tão absurdas quanto as que assisti nesse filme. Que no final das contas conta a história de uma menina, coisa que já fui um dia...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Lançamento do curta " Sempre as quartas"


A poesia pode aparecer de várias formas , e ela esta presente em quase todos os nossos momentos. Esta nos olhos de quem vê , está no embalo de nossos pensamentos , na percepção , na emoção , está nas mais simples e nas mais complexas ações que somos capazes de operar... Existem pessoas que simplesmente nunca vão dançar neste ritmo , elas não são melhores ou piores , apenas ignoram essa mágica. O cinema é a mágica da ficção , é a ação que vem com promessas , com revelações , com sonhos , com uma realidade que faz um sentido diferenciado a cada um que observa. É a arte , é a desordem ordenada, é o complemento dos espíritos inquietos... Ontem mais um projeto nasceu , mais uma história foi projetada numa tela. Ontem, eu tive o previlégio de estar presente ,no lançamento do curta " Sempre as Quartas", e satisfeita em saber que de alguma forma contribui para que ele existisse. Estou de alma lavada, estou feliz pela emoção que senti, e tenho certeza que aprendi muito com essa nova experiência... Parabéns a todos!!!

sábado, 12 de julho de 2008

Onde a doação não tem recompensas


O dia chega ao fim , ele dorme no sofá , a empregada , a de sempre, está lá ,esperando a ordem do patrão para sair e embarcar na sua próxima jornada , as conduções , as filas , o aperto , o cansaço estampado no rosto de outros colegas. Ele dorme , ele finge dormir. È dia dois , dia acertado para o pagamento , dia em que ela sempre ficava mais ansiosa em receber seu dinheirinho suado , que daria no final das contas para pagar as contas e tentar levar o resto do mês.
O apartamento de dois quartos , não é lá grande coisa, poucos móveis , uma cama de casal , com um colchão de última geração, muitos CDS , alguns utensílios domésticos modernos, mas aquele sofá era precioso , ele dormia nele praticamente a tarde toda e via TV nos intervalos de sono. Era ali que ele permanecia como um vegetal. E as horas estavam passando o horário do próximo ônibus se aproximando , e ela já batendo panela , sim ela já tinha passado aspirador naquela sala umas três vezes, e nada, nem um olhar. Ele permanecia adormecido, imóvel como um móvel antigo , como parte de uma mobília velha, as roupas surradas , cabelos totalmente sebosos, uma moldura de um quadro daqueles pintores que nunca tiveram seu trabalho reconhecido. Um plágio , um devasso resto de ser humano. Ela pensava vou bater as panelas , vou fazer um panelaço , é meu último recurso , eu conheço bem esse comportamento.- Ahh se conheço!! Quase chegando no horário do último ônibus ela já não se conteve e num grito acordou seu patrão. Ele olha com uma cara de espanto e se faz de desentendido, um olhar de desinteresse e maldade , muitas más intenções. Ela explica rapidamente antes que ele adormeça de novo, que precisa do dinheiro , que o aluguel tem que ser pago amanhã, que a luz já foi cortada , que ela precisa sair dali nesse momento e com o dinheiro.
Num sorriso malicioso ele pergunta se ela não quer dormir ali hoje , já esta tarde , porque sair assim tão depressa. Afinal foram tantos anos , e se ela já esperou tanto, porque não poderia ficar mais uma noite. Já sentado no sofá ele tenta argumentar, explicar que tudo isso pode ser deixado para amanhã. Ela já cansada do dia exaustivo , resume em uma única frase o grande motivo para não ficar. Nós estamos separados , eu te servi à vida toda , e ainda tenho que fazer isso todo o dia do pagamento da pensão.
São as tais leis , não fui eu quem as escolhi, mas eu nunca vou ter direito a minha aposentadoria e trabalhei muito , criei teus filhos , te amei como uma mulher jamais poderia e hoje te vejo como sempre , aquele homem que nunca saiu do sofá que herdei da minha mãe. Os filhos já casados não viviam mais com ela , nem com ele, pouco restou da relação dos dois e família foi só uma idéia boba da cabeça da adolescente que casou um dia como um homem cheio de sonhos mas sem nenhum objetivo.
Ela então com seus maltratados 67 anos, estava ali por uma questão de hábito , arrumando o lar que havia deixado, mas que fez parte da sua história. Foram anos de vida nesse apartamento que na partilha , ficou com ele. Ela nunca estudou , nem quis saber dos seus direitos na separação , só queria sair daquele horizonte , queria ver mais que um homem deitado em um sofá.
Mas o que seria uma noite a mais, para alguém que viveu 35 anos ao lado de um homem que nunca saiu do sofá. Pensou um pouco , não respondeu nada e foi para o quarto , deitou e adormeceu , e antes de pegar no sono quem sabe um dia minha profissão seja mais valorizada, talvez um dia esse herdeirinho de um império volte a me amar , mas o que sem dúvida a deixou mais apreensiva era se ele ia pagar a pensão , de 300 reais para ela voltar para sua casa, para a sua vida nova.